domingo, 15 de fevereiro de 2015

Artigo de opinião - Camarotizando

                Anunciado pela Veja São Paulo em 1º de novembro de 2013, Alexander de Almeida ganhou notoriedade por ser um empresário de 39 anos, dono de uma Ferrari 458 Italia, que gasta “de R$ 5 mil até o infinito”, que em seu camarote tem que ter mulheres bonitas (e caso não tenha, é o mesmo que comprar um Boeing e pôr um piloto de teco-teco), e conta coisas “pesadas” (como se ninguém nunca tivesse feito o que ele conta, principalmente em uma casa noturna). Após ganhar a alcunha de Rei do Camarote, a dúvida pairou sobre sua existência, sátiras foram feitas, emissoras de televisão investigaram sua privacidade, Lorenzo Carvalho (hoje endividado) foi apontado como “o real Rei do Camarote”. A FUVEST, em seu último vestibular, apontou um tema de ampla repercussão: a “camarotização da vida”, o que gera uma boa avaliação do nosso patamar social na atualidade.
                Hoje tudo precisa ser compartilhado; eu preciso mostrar que estou em tal lugar, com aquela pessoa, bebendo esta marca, comendo um belo prato e dizer “vida difícil”. Enquanto isso, pessoas passam fome, estão em orfanatos à espera de uma família, trabalham até altas horas em ambientes insalubres para no fim do mês ganhar um salário mínimo, policiais – com escasso treinamento – trocam tiros com criminosos, bombeiros resgatam, médicos salvam e tratam. Há todo um mundo correndo enquanto você está aí, descansando e jogando na cara dos outros que essa boa situação é, ironicamente, uma “vida difícil”. Ah, e não podemos esquecer que tudo isso vem acompanhado de uma foto, tirada a partir de um smartphone, que está sincronizado a um controle remoto e acoplado a um chamativo “pau de selfie”. Meu amigo, eu posso pedir pra outra pessoa tirar a foto, ou simplesmente usar meu braço.
                Conforme Cauê Moura cita em seu vídeo “Agregando valor à futilidade”, ostentação em um país como o nosso chega a ser ofensivo, pois você joga na cara que gasta em uma noite algo que alguns cidadãos não ganham em cinco ou seis anos. Na região de São Paulo, onde o funk deste gênero (ecoado a partir de indivíduos que não possuem nem uma Honda CG e já falam em Suzuki Hayabusa) bomba, nota-se a capacidade do ser humano em juntar o que é desnecessário com o que não precisa. É redundante, mas é exatamente o que as canções pregam; a riqueza em reiteração, para gerar a atração feminina e de mais alguns “mano da quebrada”. E esses “castelos de ostentação” são tão falsos que nem o homem mais rico do Brasil, Eike Batista, conseguiu manter de pé; após operações deflagradas pela Polícia Federal e bloqueio de bens e valores pela Justiça, sua fortuna chega a ser negativa.
                E claro, hoje até quem está na pista consegue “ostentar mais do que o Eike Batista”. Algumas coisas eu até copio do Rei do Camarote, como pegar duas garrafas de bebida qualquer e erguer, da mesma forma que é efetuada no vídeo da Veja São Paulo, por mera gozação. Não se pode confundir o relato de momentos com ostentar. É preciso que as coisas sejam separadas, para não criar confusão e mal entendido com o presente artigo. O que não deve ocorrer é essa espécie de moda e orgulho que os indivíduos possuem de seguir o que está no topo, o que é evidenciado pela mídia em geral. Existem coisas tão simples que viraram símbolo de riqueza, poder e “camarote”. É aí que a “camarotização da vida” segue seu rumo, seja pelo mísero “pau de selfie” ou qualquer outra coisa que esteja na moda. É vital o discernimento acerca deste assunto, sendo que da maneira que está a “escalada pela ostentação”, há pouca esperança.

REDAÇÃO NÃO AVALIADA.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Dissertação - Vingança

                O gênio da filosofia Seu Madruga disse certa vez que “a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena”. Uma das mais célebres frases, repetida diversas vezes por fãs da série Chaves, e aplicado como norte na vida de algumas pessoas um pouco mal resolvidas com seu passado. No entanto, esse sentimento pode ser algo ruim que se torna bom, e até servir como uma espécie de redenção. Afinal, qual a plenitude da vingança?
                Suponhamos que um estudioso gosta de certa pessoa, mas ela esnoba-o sempre. Os anos passam, o indivíduo está estabelecido, bem de vida, e a outra não vive dias bons. Este seria um caso de “viu, eu bem que podia te dar uma vida digna, um autêntico mar de rosas, mas não”. Quase que um “vish, bem feito”. Este seria um exemplo de redenção vingativa.
                Mas isto é realmente necessário? É preciso que as pessoas passem a vida com remorso e rancor, para, em um dia distante, ver o outro, olhar pra trás e “jogar na cara” que é melhor que o próximo, que se esforçou e atingiu certo patamar, estando melhor que todos aqueles que riram ou zombaram no passado? Cria uma falsa satisfação pessoal, uma espécie de prova de que venceu na vida. Só falta confeccionar um cartaz para tal.
              O vingativo tem um espírito medíocre. Aquele que sempre guarda cada coisa, cada momento, para usar contra o outro no futuro. Uma espécie de policial dos cinemas, que efetua uma prisão, afirmando que “tudo o que disser será usado contra você no Tribunal”.  Há casos específicos em que é tolerável uma comparação, mas em sentido estrito, e com fins de avaliação de situações.
                Vingança é um prato que se come frio. E que gera uma tremenda indigestão depois. Não faz sentido, essa espécie de satisfação pessoal não leva a nada. Apenas transforma os seres em arrogantes e soberbos. O balanceamento de casos é de responsabilidade de cada um, levando em conta todos os aspectos, dosando racionalmente. Faleceu em 1988, mas deixou uma eterna lição a todos nós; Seu Madruga nunca esteve tão certo.

REDAÇÃO NÃO AVALIADA